Tuesday, October 30, 2007

"No man was ever wise by chance", Lucius Annaeus Seneca

"Levanta esse moral", disse-me ontem a força maior que a Natureza um dia criou.
Como se um interruptor tivesse sido ligado, a descarga aconteceu, e fez-se luz onde a inépcia campeava, assombrosa, degradante, aniquiladora, suicidariamente.
Mansa e alastradora, uma aura de terna harmonia evolou-se por tudo à minha volta.
Movi-me, sem bem saber que o fazia, desfazendo enovelados confusionismos de um ócio mais que contraditório do seu implícito sentido etimológico.
Amanhã é outro dia, que começará, para mim, daqui a meros instantes - as minhas noites insones, ou as minhas madrugadas prematuras, ou ainda todo o tempo que me recuso a desperdiçar dormindo...

Sunday, June 24, 2007

Angústia(s)...

Este inapetite de tudo, esta sensação de querer agarrar a poeira que se esvai, densa, por entre os interstícios, nas fímbrias da minha dor, sem saber de quê...
Um peso sem dimensão que aniquila toda a minha vontade, que me prosta, me acorrenta a uma mudança sem tempo, num espaço sem medida, numa inacção permanente....
Um desgosto profundo rebenta com o meu peito, sinto o coração querer saltar pela boca: onde antes era fruição por tudo e por nada - bastava a vida para me sentir bem... - permanece, recrudesce este sentir oco, desnudo, esfarrapado, desconstruído. Apagou-se a luz dos meus olhos, a claridade da minha face, o brilho dos meus cabelos, a concretização dos meus mais ínfimos sonhos...
Sinto-me morrer de dia para dia, sem alento em cada esquartejar do tempo - tenho medo de não ser capaz de nunca mais ser capaz de voltar a mim - já não me reconheço: perdi a réstea de esperança que me ajudava a prosseguir... As sombras felizes do meu passado deixaram de ser uma, a única razão que me orientava, que me animava: tudo fugiu de mim, esvai-se-me, também, a alma...

Tuesday, May 8, 2007

Palavras: ("Paroles, paroles, paroles"...)

Este mundo de palavras feitas, de palavras incompletas, de palavras por dizer, essencialmente: "clichés" que preenchem os quartos que as horas têm, exposições que deixam quase tudo por dizer, e muito mais por sentir.
Fecha-se um círculo, qual roda tosca, primária, o mundo gira em torno de si mesmo, como um pião que perdeu o fuso.
Outra mecha se atira, e novamente a roda tosca desgasta arestas, sem deixar alternativas, repisando ideias fixas, levantando a poeira que persiste em grudar-se ao tempo que persiste em recuar, em se reafirmar...
... E nós que somos a consciência de tudo, somos, afinal, os inconscientes aos apelos que o mundo, a vida, e as coisas nos trazem de mansinho, subrepticiamente, sem dó nem piedade: ensinamos a persistência e somos os mais renegados e estulsos teimosos , duros de ouvido, anquilosados nos pressupostos que criamos para nos fazermos ouvir, olvidando que tudo o resto reflecte a essência, que nos habituamos a ignorar - portas abertas à vida, respostas prontas à ignorância, dados por trabalhar na tessitura desta globalização que faz de nós o ponto mais ínfimo do universo, mas que se rege por nossas mãos, adormentadas de recusar afectos.

Sunday, April 29, 2007

Eu...

... que me imginava distante destas pequenas, maçadoras ligações?!...
... que entendia, que as grandes afectividades se encontravam de outras formas mais palpáveis, e sensitivas, também;
... por aqui divago, (devagarinho?!...), que este recanto não é para pressas, nem para buscas, e muito menos para fugas - pedaços colados ao tempo modorrento dos meus espaços insossos de alguns dias - ou uma pausa a pedir reencontros com a minha própria, (e muito "sui generis") solidão?!...
..., que nem "acredito em anjos", (?!), vinculei-me a um intemporal compromisso - (até que os dedos me doam de percorrer teclas) - para recatar um equilíbrio, (esse, sim, reachado?!), no remanso das minhas pequenas fruições, doseadas de inconstâncias, de dispersas atenções, de interesses o mais plurais possíveis, mas, sempre, soltos, ao sabor das minhas pendências e das minhas frágeis, fugazes apetências para discernir, escrev(e)/(i)n/(nhan)do...

...!! Foi-se a vontade de por aqui continuar - vou "correr uma cortina": parto para outra apelativa e tranquila inscrição no meu espaço vital - uma "bica" chegou até mim pelo odor que me trouxe o vento...

Saturday, April 7, 2007

Madrugada(s)!

Busco em cada madrugada um lenitivo, uma resposta para o desânimo, no solilóquio das minhas lucubrações - fico sempre, ou numa nuvem fluida de intenções, ou mergulho num amarfanhante marasmo de já nem me conhecer, de já não saber de mim.
Esta solidão, que me corrói, este amar demais a vida e não sentir nada - apenas o frio inóspito do desencanto, a tristura infinita da descrença, o calculismo inevitável das razões que a vida me traz nas palavras dos outros; uma inconstância em cada presença que (de)marco, depois... mais nada: o vazio, a fugacidade de um qualquer momento que passou, justamente, ao meu lado, que, se me fez vibrar, creio, até, que foi fingimento.
Utopia, para onde foste?
Quimeras que inventei, onde estão?
Sonhos que desbravei, que restam deles?

E, afinal, só peço à vida um pouco de vida, um punhado de amigos, paz, comigo e com os outros, e vou morrendo aos poucos, um pedaço de mim em cada dia que passa - não sei, tão pouco, se é ódio, se indiferença, muitas vezes, mas é, (tenho a certeza), a sombra de mim mesma que persiste em caminhar por mim...

Mulher que me fizeram, hoje resta a mulher que (des)construiram, porque teimo em aceitar a ideia de que me destruiram, malquerenças, pouco ou nenhum amor, muito pouca dedicação, e um profundo desconhecimento da minha interioridade - assim vou sentindo que tudo se vai (apagando), sem retorno: envelheci. mais por dentro, que por fora.
As marcas do tempo, essas, são inevitáveis; as marcas da vida, ah! as marcas da vida!, pod(er)iam bem ter sido evitadas, com um leve "touch of rapture", verdadeiro - não há plásticas para a alma: ela perde-se, ou vai-se perdendo, de angústia em angústia, de desamor em desamor, de incredulidade em incredulidade, de dádivas imperfeitas, (se as houve...), em circunstanciais opacidades feitas de (des)encontros...
Nem sei mesmo se não será só disto - encontros roídos e gastos pela vida de cada um de todos nós - que se faz, que se está (na), que se sente a vida...

Mas que rejeito isto que é nada, (ainda tenho força e consciência suficiente para tal), não posso deixar de o fazer.
Quero outra coisa, qualquer coisa, uma coisa coisificada de modo diferente do que tenho, e há para receber - sei que está aí, pronta para ser agarrada, sentida, vivida, mas... como alcançá-la?
Quem sabe me terei perdido demais para lutar por ela?!...

Sunday, March 25, 2007

Santa Domenica?!...

... de luminosidade tíbia, de espaços por preencher, de vontades por (a)cresce(nta)r, de dentro de mim - ir, ou ficar; ir, querendo não ir; ou ficar, querendo partir... para um sumiço qualquer, num Ledes momentâneo... Que maçadores são estes "santos" domingos de tontas inseguranças, de inquietas modorras?!...

Se saio, desenquadro-me do solto fervilhar da mole que se arrasta em busca de um monótono prazer de todos os domingos familiares...
Se permaneço nos esquadrinhados recantos do meu habitual reduto, sinto que o pensamento se evola, que todo o meu ser adormece...

[Uma forma menos imóvel de marcar, hoje, a imensíssima chateza desta vaga de nada: o oco e absurdo dia (inexistente) de todas as minhas semanas]