Saturday, May 26, 2012

Brincando aos Santos Populares - (vêm aí os festejos?!..)

Quem quiser casar comigo
Tem que ter boa aparência
Ser garboso e bom amigo
Nunca primar pel' ausência

Sorrir sempre para mim
Com (os) olhos postos nos céus
Porque, por certo, assim
Estamos nas mãos de Deus

10/03/2012

Sunday, May 13, 2012

Recordações de uma outra Lisboa (excerto)

......
Há recordações que guardo com carinho pelas pessoas que a elas estão ligadas.
Contudo, há mágoa pelo desrespeito, a insensatez e a injustiça que a pseudo-liberdade, cega, sórdida, execrável, me fez sentir.

Vivi, dos meus dezoito aos vinte e dois anos, em dois lares, situados sensivelmente na mesma zona, embora com características completamente diferentes. Creio que já nenhum deles hoje funciona.
O primeiro, o Lar Joana d'Arc, na Avenida da República; o segundo, na Praça José Fontana.

Há personagens que jamais se apagam das nossas memórias. Como há factos que nos fazem, por um lado, acreditar que ainda há gente com maiúscula, e, por outro, lamentavelmente, que pululam por aí demasiados mentecaptos, que, à revelia, sabe-se lá do quê, se outorgam o direito de destruir o que de bom a vida nos proporciona.

Havia, e desapareceu, infelizmente, uma figura característica de Lisboa - o guarda-nocturno.

Quando vivi no Lar Joana d'Arc, quantas vezes o guarda-nocturno, abrindo-me a porta de entrada do prédio, me perguntava, sempre: "Quer que a acompanhe até à porta, menina?" O edifício era velho, o elevador avariava-se com frequência, e ele sabia-o. Quantas vezes fui cantarolando, escadas acima, para afastar o medo?! Situações houve em que ele teve que correr com mendigos, que se acolhiam nos patamares, ou nas escadas. Mas sabia que, embora não indo comigo, ... ficava à espera, lá em baixo, de porta aberta, até me ouvir entrar no lar.
O Lar da Praça José Fontana ficava no primeiro andar de um prédio mais recente, mas o procedimento do guarda-nocturno da zona era o mesmo. Esperava que entrasse, e só depois prosseguia o giro.

É com este último que, após o 25 de Abril, tenho das mais angustiantes e revoltantes experiências, provocadas por procedimentos de um pseudo-defensor da liberdade.
Uma noite, uma das laristas, que ía sair com o namorado, convidou-me e a mais duas outras raparigas, para irmos com eles.
O guarda-nocturno ía na sua plácida e rotineira volta.
Já íamos de largada, quando o Víctor, de repente, pára o carro a meio da estrada, sai, de rompante, dirige-se ao homem e diz-lhe: "Agora com o 25 de Abril, finalmente posso dizer-lhe o que há muito lhe queria dizer! Seu grandecíssimo filho da puta!"
Não me contive: saí do carro.

O Víctor perguntou-me: "Onde vais?"
- "Desculpa, mas acho que foste, para além de muito mal-educado, extremamente estúpido. Vou voltar para casa".
Espanto dos espantos, fui apodada, pela primeira vez na minha vida, de - "És uma fascista!"

.....

A minha homenagem é para estes seres, que, para além da provecta idade, [(quase) todos já eram de idade avançada - pelo menos para mim, que era nova...], que me merecia o maior respeito, tinham sempre para mim, (e creio que para toda a gente)... uma palavra amigaum "boa noite", que nos guiava até dentro de casa.

Desapareceram, infelizmente.

Transportavam consigo uma argola enorme, com chaves, muitas, e nunca se enganavam na fechadura certa. Parecia que levavam consigo as chaves do(s) céu(s) e do(s) inferno(s) - e eles sabiam onde estava(m) u(m)/(uns) e outro(s)...

......

...eram uma nota de vida na "côr-local" de Lisboa nocturna.

07/03/2012

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- texto elaborado, por repto lançado no início do mês de Março, para recordar marcas que "os filhos da madrugada" deixaram para nos entretermos: elas são os deboches, as incúrias, as mal-querenças, as más-educações, as vilanias, o desrespeito pelo próximo, com que temos que lidar todos os dias
- nenhum dos Lares em questão existe hoje; o edifício, onde se situava o da Avenida da República, embora mantendo a fachada, foi reconstruído em traça moderna; o da Praça José Fontana passou a residência particular haverá mais de vinte anos, mas o edifício está intacto.
13/05/2012, (10h:15')
 

Friday, May 4, 2012

Inquietações e Desassossegos

Há já uns dias que memórias da minha infância me deixam prostrada, sonhando acordada.
Não aguentei a "marinada" e tive que vir descarregar, no meu "diário electrónico" toda esta disforia.


Relembrar o cinema, os filmes, as imagens, que encheram os meus olhos de sonhos, o meu cérebro de utopias, e o meu coração de recordações coloridas, que jamais se repetiram, ou virão a repetir-se, deixa-me inquieta, vibrante, lamentando nunca me ter sido possível fazer o mesmo percurso que os meus pais me possibilitaram guardar com ternura, fascínio, e um imenso amor à vida e à família. 


De cada vez que decidiam sair, quer para o cinema, quer para o teatro... Que lindo era tudo?!... Deverão ter começado aí as noites curtas, as minhas madrugadas prematuras...
Recordo-me deitada na cama deles, de perna cruzada sobre um dos joelhos, vendo-os prepararem-se - a minha mãe, que, voltando-se de costas para o meu pai, lhe pedia que puxasse o "zipper" do vestido, (longo, sempre até aos pés), ou que lhe colocasse o colar; o meu pai, no outro espelho, ou por detrás dela, dando o nó na gravata, mas pretendendo que ela lhe desse o jeitinho particular, e muito pessoal, quer à gravata, ou ao laço, quer ao lenço de bolso do casaco. Depois... um cheirinho de perfume, um brinco apertado, um "bâton", um sinal, um caracol... Uma estola, um casaco...e a "pochette", pequenina...
Um prelúdio de sonho, de fantasia, que prosseguiria quando regressassem a casa.
Relembro o espanto de me verem sentada na cama, mal entravam em casa. Mal cabia de expectativa pelas narrações da minha mãe - o meu pai servia de "ponto". Muitas vezes, já só pela madrugada dentro adormecíamos.
A minha mãe teve sempre um jeito muito seu de contar "estórias". As imagens que desnovelava, recriaram enredos bem mais perenes e vivos que os que vi, mais tarde, nos filmes que relatou. Suplantavam sempre, sobrepunham-se sempre às sequências projectadas nos "écrans" - assim foi com Cleópatra, Ben-Hur, A Ponte sobre o Rio Kwai, e tantos, tantos outros. Tenho-os, inclusive, gravados em vídeo - revê-los é, mais que o que a tela vai passando, o desfiar de imagens que ela coloriu quando mos contava.
Se eram longos, ficavam para depois da escola, no outro dia. Chegava a casa, fazia os deveres da escola, e plantava-me ao pé dela para a ouvir. 
Momentos destes, inefáveis, doces, quem dera aos miúdos de hoje?!...


Quando comecei a frequentar as "matinées", aos Domingos, com eles e o meu irmão, era um delírio.
A minha mãe desistiu de ir connosco - ríamos tanto, as pessoas mandando-nos calar constantemente, que ela preferia ir com o meu pai à noite. E ele não se importava nada de ver de novo, em diferido, o mesmo filme.
As tardes de Sábado, ou de Domingo, começaram por ser com o meu pai - uma "casa cheia"!?... Não falhávamos Mário Moreno, ("Cantinflas"), ou Louis de Funés. Para além de rirmos com gosto, havia, a contra-gosto, o meu irmão, pequenito, a pedir sempre"Mana, lê alto. Também quero rir: não percebo. As letras fogem..." Era um desassossego completo, e uma alegria para o pai babado que tive.
Passámos a ir sozinhos os dois, mais tarde. Era uma festa - relembro Marisol, Joselito, também... Um lanche em família, depois. Um passeio pelo Jardim Vasco da Gama. Às vezes fotografias, e longos passeios a pé, para arejar e "ver as montras".


Um dos cinemas mais frequentados situava-se na Rua Araújo, a "Rua do Pecado", em Lourenço Marques.
De dia, era uma azáfama, de trabalhadores das alfândegas, dos escritórios, das embaixadas - onde solicitei e recolhi muita informação para as disciplinas de História e de Geografia; como eram em Inglês, ajudaram-me a desenvolver esta língua estrangeira, tornando-me numa das melhores alunas da disciplina. À noite, - (que também por lá passávamos de carro, a caminho do cais, por onde o meu pai adorava andar a pé, para ver o bulício dos trabalhos de carga e de descarga, os guindastres em manobras, um vai-vem de operadores de todo o género - sabia bem a fresquidão da brisa marinha, principalmente em noites quentes, de calor intenso), - era esquisito: pouca gente, muitas piscadelas de "néon", gente de côr envolta em roupagens estranhas, homens de comportamento duvidoso... Enfim: o "pecado" estava na rua e batia à porta dos bares, e das "strip-teasers"...


Nunca interroguei os meus pais sobre esta alteração, na mesma rua, entre o dia e a noite - há coisas que são óbvias, que, intrinsecamente, entendemos - aceitamos, ou rejeitamos: era o dia, dia; era a noite, noite.


05/05/2012, (03h:20') 


  

Thursday, May 3, 2012

Arremedos para entreter o tempo

Percorri caminhos sem fim
Vi rostos que desconhecia
Senti fragrâncias de cetim
E quis sempre mais do que sabia

Corri atrás do Sol,
Que me incendiou de luz:
Fui tudo num arrebol
Acrisolando tudo de jus

Andei tonta com a lua
Vendei depois meus olhos:
Quis tingir a minha rua
De margaridas aos molhos

Onde sentisse ciciar
Murmúrios, melopeias
Nas ondas que o mar
Trazia com as areias

Que desmaiavam serenas
Brilhando no meu corpo,
Perfumando minhas melenas
De maresia, de iodo

Juntei o mar e a terra,
Pus o céu de cobertura
Depois... foi uma guerra
P'ra partir p'rà loucura

De querer despertar
- A vida é tão fria
Que não se deixa amar
Tanto quanto eu queria

03/05/2012, (22h:55')