Thursday, December 29, 2011

Não podia ser melhor este final de 2011, depois de todas, muitas, pesadas, desajustadas ocorrências ao longo de todo o ano - perdi textos que deveria endereçar para publicação!
Vou ter de partir do início, e tudo já será diferente - texto, impulso, "élan".
Sou a mais sortuda de todas as almas, de facto?!...
Se não me destroem os manuscritos, se não mos fazem desaparecer no espaço virtual, se não se infiltram para mos surripiar, acontece sempre o imprevisível - na minha preocupação com o(s) outro(s), esqueço que estas variantes de escrita ainda nos pregam desagradáveis surpresas.
Foi-se um trabalho de dias, algumas horas friorentas inclinada sobre o tablado, escrevinhando como se catasse o sal da minha vida perdida, sucessivamente sonegada, por estas ou aquelas razões.
A persistência também desiste.
A força também esmorece.
O frenesim torna-se melancolia, taciturnidade.
E tudo fica por acontecer.
E tudo permanece em folhas soltas, escondidas, algures, pelos cantos onde melhor possa esquecer os minutos em que quis realizar qualquer coisa, ocupar o meu tempo intemporal, longe da matéria envolvente.
Tentarei, como sempre, um dia qualquer, quando a verve e a vontade se entrelaçarem...

Tuesday, July 19, 2011

Anos '50/'60/'70/'80...

Agarramo-nos às vivências que nos trazem cores, cheiros, sons, emoções dos nossos caminhos percorridos; estranho é ter-se consciência de que os vários estágios por que se pautam as nossas experiências, que vão consolidando, quer as nossas projecções, quer a nossa personalidade, perdem nitidez, difusam-se com o rolar do tempo - hoje são os outros que nos fazem, na maioria das vezes, de "ponto" dos nossos registos; antes, o nosso individualismo era suficiente para se impor, para inscrever cada uma das nossas actividades, selectivas ou não.
Mimamos, em gestos e olhares.
Revimo-nos no(s) outro(s) - sentimo-nos sombras, ou corpos sem densidade, sem forma: há reflecções, difusões, latências que perpassam pelos nossos olhos; imagens fugazes, que esquecemos até voltarmos a ser diapasões recíprocos das nossas fruições sem consistência.
O ser já é somente estar; o permanecer foi pintado nos registos dos nossos diários de outros tempos.
Dizia Pablo Picasso que "leva tempo a tornarmo-nos jovens".
Matusalém tem a complacência, a quietude, a singeleza da expectativa, do sonho plausível, da concretização, da realização das nossas mais permanentes querenças.
E, afinal, somos corpos em mutação, como antes, sempre, mas de outro modo. Vivemos pela essência; o antes era a substância, avolumada nas posturas, nas atitudes, nos gestos.
Mas somos uma identidade semelhante - de Picasso recolhe-se o que ficou por fazer, quando as nossas capacidades não puderam exprimir-se.
Anos '50, '60, '70, '80...

Sunday, May 1, 2011

Relicário

Se as experiências contam p’ra valer, e se valem o que valem, os bambúrrios da fortuna giram de forma contrária a tudo o que se deseja – perde-se o gosto, perde-se a memória, perde-se o sonho, perde-se a esperança, perde-se o “élan” – perde-se o amor, ao cabo e ao resto!
Vida madrasta esta, como doença crónica de angústia, de descrença e malquerença – andamos sempre de mal com ela: não se deixa amar, ainda que persistamos em amanteigar “o pão do Diabo” de todos os dias… Dá vontade de desistir dela, e “partir p’ra outra”!
Canso. Os ossos pedem descanso.
Retardo, e esmoreço. Qualquer sensação próxima do alento da morte bafeja à minha volta.
Fumo, para ver se ainda respiro – desisto: não fruo do modo como soía; deixa-me amargos de boca desconhecidos, como se de calos ficassem cheios os meus papilos – que desconforto sem nome…  

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Monday, April 4, 2011

"Sei de uma camponesa..."

... que vive dentro de mim, paredes meias com a desventura, roçagando escolhos e abrolhos - senta-se todos os dias à minha mesa, refrigera-me as noites, dormitando silente, e desvelando cuidados por uma vida melhor; vagueou, perdida na esperança do amor à vida, perdeu mais do que ganhou, não por não saber jogar - as "mãos" foram de "dor e pecado", não conseguiu, (ou não quis), vincular-se à desconexa hipocrisia, ao cinismo, às "mise-en-scènes" fortuitas - troca-se tudo de tudo, desrespeita-se o sonho do outro, a calma ociosidade da filosofia, e depois... depois restam as cruzes, palpitando e ensombrando momentos outros próximos das repetições anteriores. E foi assim que me perdi com ela, trazendo-a num aperto no peito, deixando morrer sorrisos, cerrando os olhos de sombras, rasgando a carne de ressentimento, de raiva, de inconformismo desmesurado...