Monday, March 12, 2012

Razões de ser

À uma da manhã, (-5 minutos), saía do portão da E.S.P.A.M.O.L - acabei o P.F.A.P - é bem pior que fazer a atribulada viagem no "combóio de Chelas"!?... Nem rescaldo, nem inquietação: uma sóbria quietude apaziguadora, um diluir de tensões desenfreadas: as sombras mortas que se esvaiem já tão fora de sentido e razão de ser ou existir. Regressa a minha consciência tranquila, tão fora das ninharias que me rodearam, que me abalaram - a benção divina que desce sobre mim é o lenitivo dos meus dias normais, de novo: nem a fome, o sono e o desiquilíbrio da "desertificação" em que me encontrei durante duas semanas consegue já ser um pálido resquício: já tenho de novo música dentro de mim! Só a letra, (numa breve análise), permanece ainda insegura - vai voltar a paz, a distância do resto, e, sobretudo, a certeza de que há muitas mais razões a precisar da minha constante racionalização, imagística, dádiva: a minha razão de existir - os meus jovens!

19-20/11/1993, (sexta para Sábado)

- Quem andou envolvid(a)/(o) nestas andanças da profissionalização sabe do que estou a falar e da loucura (dos outros), que nos perturbam e desajustam, desnecessariamente. Restam muitas más recordações, noites perdidas com longos dias de trabalho, sem nunca descurar a devida atenção a tudo o que pudesse envolver aulas, clubes, sala de estudo, biblioteca, arquivo morto,(o Biotério), e tantas outras actividades em que estava envolvida - mas há sempre (a)/(o)s amig(a)/o)s da desgraça alheia - é dest(a)/(e)s que prescindimos "a todo o vapor"!
12/03/2012, (17h:58')

Thursday, March 8, 2012

Dia da Mulher

Hoje, 08 de Março, consagrou-se como o Dia Internacional da Mulher - as razões que o levaram a tornar-se famoso não serão das mais abonatórias para quem decidiu sobre a vida, (neste caso, a morte), de mulheres que se determinaram a lutar pelos seus direitos. Só de tristes e vergonhosos factos se marcam datas para nos celebrarem, e só cabeças masculinas são chamadas a tomar decisões destas...

Mas, hoje, dedico o que se segue a todos os homens que não souberam amar-me, ou não quiseram deixar-se amar, o que, por vezes, é o mais difícil, de tão elementar e fácil que é.

Dizia um amigo meu, colega dos meus anos de estudo no liceu de Nampula, professor de Matemática, que "um bom professor não tem tempo para constituir família". Não serei tão radical; mas que é um facto a considerar, é-o, sem dúvida.
Ser mulher não é só ter um corpo, um sexo, um útero: é muito mais que isso.
Uma amiga de infância dizia-me há uns anos atrás, (avó assumida!): "Tu não tens filhos, nem netinhos!..." Só faltou acrescentar: "ué?!..." A minha resposta, de acordo com as minhas experiências, foi: "Sabes? Nos tempos que correm, não sei se isso me traria algum consolo"

Subtraindo estas duas questões, antagónicas, tenho que considerar que tive muitos filhos e filhas, que me deram prazeres imensos, alegrias incomensuráveis pelas sementes que neles depositei, e pelos frutos que colhi; outros, ter-me-ão dado mais destemperanças, mais cuidados, mas esses, para mim, são "filhos de ninguém" - quem não é capaz de reconhecer o bem que se lhes deseja, o denodo com que nos empenhamos por os tornar melhores e maiores, não merece menção.

Mas pretendia eu falar dos homens:
Ainda acredito que somos mais anjos, que demónios - serei romântica, talvez.
Mas acredito que nós, mulheres, temos a capacidade imensa de remediarmos, de curarmos, de alentarmos, de amenizarmos as agressividades que os homens, considerados os "batedores" da selva, que é a vida, os desbravadores das dificuldades, os conquistadores das oportunidades casuísticas, por vezes, ou descontam em nós as más visões que têm, por temerem seguir em frente lutando, ou nos desacreditam, porque nos crêem "seres menores".
Já não referirei as violências domésticas, que recaem sobre as mulheres e são justificadas pelos "maus agouros" que elas desejam aos homens - alegam eles?!... Como o adepto do Benfica que surrava a mulher sempre que o clube perdia: ela é que tinha culpa. Este é um caso verídico, embora incrível, de tão burlesco.

Ser mulher - e gostei sempre de o ser, pela consciência, que a família me transmitiu, pela "endurance" que a vida me obrigou a adquirir, pela frontalidade, que me ensinou meu pai, pela firmeza das minhas convicções, que aprendi a defender - é muito mais que tudo isto:
É ter alma, e ser gente!
É ter corpo, e continuar a sonhar!
É ter vísceras, para dizer a verdade!
É ter sexo, para saber usar saias!
É ter certezas, e lutar por elas!
É ter luz por dentro, e deixá-la fluir nas pontas dos dedos!
É ter ternuras, e expressá-las em actos!
É ter raivas, e saber deitá-las fora!
É ter fé, e acreditar que a vida ainda vale a pena!
É ter dores, e não esquecer que a vida não se compadece!
É ter lágrimas, para chorar em segredo!
É ter um coração, que um dia vai parar de bater!
Mas, sobretudo, é ser mulher inteira, nunca pela metade, seja do que fôr!

08/03/2012, (15h:28')


  
  

Saturday, March 3, 2012

Filtros e Imagens

Tenho tido, com muito mais frequência, actualmente, visualizações, que, há uns tempos, pela primeira vez há onze anos atrás, pouco mais ou menos, e mais recentemente, fará um mês, me surpreenderam com estranheza.
Quem percebe, minimamente, de fotografia, sabe que são utilizados filtros para compor, distorcer, melhorar, fazer sobressair, "construir" imagens, que a objectiva capta. 
Não são a estas filtragens que me refiro.
Sem distorções, com uma nitidez impressionante, as sequências que tenho captado são rudes, feias, bisonhas - contrariamente às que guardei de Chipre, por aqui tem acontecido uma panóplia de rostos emporcalhados, de gente com corpo tresandando a sarro, transportando lixo por dentro...
Não consigo exprimir, claramente, esta clara, abjecta transmutação orgânica.
Uma aura de promiscuidade agravada, uma forte e impressiva rejeição, atingindo as raias do nojo, da repelência, envolvem-me. Nem se tratará de "uma câmara de horrores" - isso implicaria difusões e distorções. São imagens vivas, "en passant", abjectas.
Gente feia, por dentro e por fora. Pensar que poderei ser tocada, mesmo de raspão, faz-me desejar que todas as fímbrias do meu corpo se encolham, se retraiam e me furtem ao toque, seja de que modo fôr - não posso evitar esta sensação.
Pensar em tocar-lhes, é como se me transfigurasse, tentando penetrar, por momentos, nesse mundo. Lembro-me sempre dos leprosos, em Moçambique, (em Nampula, para ser mais clara), em quem tocava, para desespero da minha mãe - mas esses tinham o cuidado, (por imposição do governo, ou por seguimento das ideias emanadas da Bíblia, ou porque assim era determinado pelas missões), de se fazerem acompanhar de sinetas, ou campainhas para salvaguardarem os que não padeciam da doença.
Por aqui, impoem-se, infiltram-se, emporcalham-nos, sem respeito nenhum pelo próximo. E é esta atitude, esta postura que denigre, mais ainda, o seu "modus vivendi" e adensa a rejeição que me tolda os sentidos, me provoca náusea, angústia, sofrimento e dor. De outro modo não se explicariam os sucessivos males-estar, doenças, que me têm prostrado desde que por aqui vou vegetando.
Não existem refúgios onde possa estar em paz, longe de tudo isto: perseguem-me, antecipam-se às minhas pressupostas intenções de buscar lugares de reflexão, de meditação, de encontro com a harmonia. Um assédio, a todos os títulos, irreverente, sórdido, primário e de impulsos animalescos. Aliás, nem mesmo os animais, sentindo-se sujos, se aproximam dos donos, e/ou evitam o contacto com as pessoas.
Com esta gente dá-se o contrário. Quando se apercebem, gastam água, (calhando das fontes e nascentes), e, julgando-se "lavados", vestem-se de novas roupagens, tentam a aproximação - o mal está lá, persiste, apesar de tudo - mas eles não têm consciência disso. São acríticos, (ou criticam o que não devem, sem se aperceberem que padecem dos mesmos males), irresponsáveis, incivilizados: uma geral inconsciencialização cresce, avoluma-se numa massificação tenebrosa, numa mole imensa de esterco humano.
Lamento, às vezes, a minha incapacidade de lidar com estas miudezas. Não sei ser de outro modo.

04/03/2012, (07h:08')