Thursday, February 23, 2012

Sons na noite

A brisa suave da noite traz-me o repicar dos sinos das cercanias.
Fazem eco no meu corpo, fundem-se em mim - semicerro os olhos, e conto as badaladas...
Sempre esta imensíssima sensação de estaticidade, de plasmagonia, de ressonância sacrossanta. Como uma sonata só minha - esta magia acompanha-me desde sempre.
Não batem todos a compasso: cada um - e, se bem recordo, serão dezanove as oradas, igrejas e capelas da zona, - têm horas diferentes, repiques similares, mas distintos uns dos outros.
Uma toada que me enche de paz, como se anjos tocassem harpa, ou címbalo... 
"Terna é a noite"...
Tudo se conjuga com a plenitude de paz, que me apazigua sobressaltos, inquietações, e esta ausência de mim.
De noite, tudo parece mais intenso. 
A verdade é que, qualquer que seja a hora do dia em que me seja possível ouvi-los, páro, inadvertidamente, sem mesmo me dar conta, esteja eu a fazer seja o que fôr - como uma oração, reflectem-se no meu âmago as cadências, os timbres, e sinto uma incontida vontade de cantar(olar).
O medievismo das esferas concêntricas.
A harmonia perfeita entre o universo e eu.
Sinto-me envolvida numa redoma, como se a protecção divina me impedisse de ser ferida.
Volto a acreditar que tudo vale a pena.
Uma vontade impulsiva, imprime vida à minha vida.
Gott sei Dank!

24/02/2012, (04h:55')

Friday, February 17, 2012

Um Conto por mês (excertos)

Bacalhau à Zé do Pipo

Acontecem os triângulos, amorosos, ou nem por isso.
Quis o destino que almas gêmeas no desregramento, na desmesura e insensatez se cruzassem, escada abaixo, escada acima.
Uma fêmea despudorada intromete-se na relação de um casal de gasta vivência, embora com poucos anos de matrimónio. A vida opaca, sem palavras por reinventar, leva o macho a pressupor, (assediado por outros rabos-de-saia), de que é um "gatão" de alto coturno; quase analfabeto, ...

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... - hoje vinga(-se) o sexo, justifi(c)/(x)a-se tudo pelo sexo, seja lá como, onde e quando fôr ...

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Mas por amor, (dizem...), aguenta-se tudo - já alguém disse que "amar é permitir que nos magoem"; não vou por aí, mas, neste caso, decalca-se o chavão: a mulher - Fúria Delirante - no princípio, dá-lhe rédea solta ...; depois, muda de táctica, e tenta uma aproximação com a adversária, de modo subtil, umas vezes, outras, em que se nota algum desagrado, e por fim, uma amizade partilhada de cafés e festins e passeatas.

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...; há uma (quase) inquestionável normalidade que decorre com o passar dos dias, até que novos abalos e cansaços surtam efeitos contrários.
(O  Zé do Pipo é mesmo assim: desbocado, presumido e um imbecil chapado).

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... estas bacalhoadas sempre permitem mãos e colheres alheias no tacho; o que é preciso é levar o bote a bom porto, mesmo que já nada volte a ser como dantes.

07/11/2011 (15h:30')   

Thursday, February 9, 2012

Lagoa de Braças

Paraíso aberto ao sol,
Onde tu e eu nos abraçámos
Em busca da quimera:
Tudo resultou poesia
- Tu, eu, o mar e o sol...
O coaxar das rãs
Foi música de fundo,
O pipilar dos pássaros,
O marulhar das folhas,
Concerto inacabado
E eu senti-me longe, longe...
Talvez vagando no infinito
E tu correndo nos meus braços
E eu esfarelando areias,
Riscando letras desconexas,
Desenhando o rosto do amor,
Impreciso, turbulento e belo...
Quedámo-nos no silêncio
E fizémo-lo ária do sonho,
E tivémos esse sonho,
E fomos, enfim, humanos
Tão puros, tão nus: eu, Eva - tu, Adão
- Pecámos na maçã de fogo
Que nos abrasou ao entardecer.

25.08.1972, (23h:10')

Quando eu morrer...

Quando eu morrer
Quero que me vistam de estrelas,
Que me fechem nas mãos
As mais belas conchas do mar,
E me ponham nos cabelos uma dália vermelha
Para levar comigo
Um pouco de céu,
Um cheiro de mar,
E o eterno perfume da vida!

23/07/1982, (20h:40')

Wednesday, February 8, 2012

(Sem Título)

Anos que fiz
Anos que vivi
Anos que não quis
Mas em que fui feliz

E hoje, fazendo anos, esqueço, às vezes, que também tenho um Sol à minha espera, que a lua ainda chama por mim, que a música ainda ecoa em mim, que ainda há risos que não ri e sonhos que não sonhei.
Só dor, lágrimas e uma angústia feita medo, desencanto, denúncia, descrença... Sim: sobretudo isso - uma sólida, solitária e crua descrença, numa desconfiança de pesos que me arrastam, de gestos mal-entendidos, de palavras por decifrar, de olhares por rimar, de certezas por receber.
"E eu tão só..."
De mim já nada mais sei que isto: inconformismo de sonhos consecutivamente desfeitos, de dádivas murchas e sem resposta, de códigos por desvendar, e anos... tantos anos, de e por esperar.

06/02/1989, (23h:18')
- nascer em África, e mais propriamente em Moçambique, ter a família que tive, (hoje truncada), é um estigma sem
  possibilidade de "apagão" - é-se assim, porque sim... o resto são puras demagogias, sem enquadramento, nem razão de
  ser  neste mar de desilusões que é o "continente"

Thursday, February 2, 2012

Hoje...

O dia prenuncia boas perspectivas - vamos nessa!
Muito trabalho programado, como sempre, aliás, mas há apelos a que não poderei deixar de responder: a satisfação das minhas realizações passa por aí - um mundo, o meu eterno, sempre imperecível mundo, prontinho e feito para me seduzir até ao êxtase!
Há orgasmos sem falos, nem corpos debatendo-se. Há paixões eternas que aspergem os aromas, as cores, as volutas de mil fruições - sempre vieram até mim, com luminosidades, que aos outros passam despercebidas.
A minha hipersensibilidade tem destas coisas - uma mediunidade genética, como sinestesias intrínsecas, inebriante, doce, como o são todas as sensações de felicidade.
É uma aura de luz irradiante - os outros sentem de mim, mas não vêem, não sentem, e muito menos são capazes de interiorizar este quê, que é só meu.
Debati-me, em tempos, com um receio desconhecido da consciência que tinha desta força avassaladora - há muito que me deixei inundar por esta onda mágica; hoje quero-a em cada dia de todos da minha vida.
Vai ser assim, hoje e daqui em diante.
A isto chamo eu
                                                             AMOR.
Sem projecção, sem objecto, sem corporização, sem substância.
É essência pura!

03/02/2012, (07h:42')

A minha produção (amadora) - 3

FLORES:


Flores, sempre flores!
Uma magnólia, a Sprengeri "Diva", de cultura e origem norte-americana.
Quando é Primavera, na pressa de florirem, não esperam pelas folhas?!....
Esta foi de encomenda.